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sábado, 10 de julho de 2010


Cineasta do sertão
Perfil/Nerivaldo Ferreira

A cidade de Rio Real, no norte da Bahia, a 200 km de Salvador, já não precisa mais de Tieta do Agreste, de Jorge Amado, para servir como cenário de uma ficção arrebatadora, campeã de audiência. O município é a fonte de inspiração de Nerivaldo Ferreira, um ex-lavrador que não se conformou com o provável destino de plantar e colher laranja, e descobriu uma vocação de criador de ilusões audiovisuais. Ele é motivo de adoração dos fãs, que acorrem das vizinhas Alagoinhas, Ribeira do Pombal, Esplanada, apenas para uma foto ou um autógrafo.
Aos 24 anos, Nerivaldo se notabilizou como um cineasta do sertão, mostrando a caatinga como a paisagem de desilusões proposta pelo Cinema Novo. Para ele, o conceito de “uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” é algo bem mais prático e, por que não dizer, hollywoodiano. É uma sucessão de coreografias de artes marciais com um ou outro diálogo como pretexto. E dessa mistura de golpes com enquadramentos, iluminação e filmagem surgiram os primeiros longas-metragens de kung fu já feitos pelas bandas de Rio Real.
Com sete filmes já realizados e o oitavo prestes a ser rodado, seu currículo é de um prodígio,pessoa de extraordinário talento embora a situação financeira seja de umproletário.(Homem pobre que vive de seu próprio salário.
No começo de sua aventura cênica, Nerivaldo jamais pediria um elogio, quanto mais um patrocínio. “A galera só queria assistir os filme pra tirar onda, fazer gozação, mangar”, lamenta, em uma linguagem há muito restrita aos grotões.
Até o irmão mais velho, o pedreiro Necivaldo, engrossava o coro dos espíritos-de-porco, que só procuravam argumento para a zombaria. Depois de não conseguir inviabilizar com pilhéria o sonho de Nerivaldo, ele se rendeu ao indomável desejo do irmão, fazendo o papel do vilão no terceiro filme, As aventuras de Shen na terra do ouro. A produção tem o irrefutável apelo autoral, uma grife que, em Rio Real e adjacências, vale mais do que qualquer assinatura de Hitchcock, Polanski ou Spielberg: “Ação, comédia, suspense e muita emoção num filme dirigido, produzido, escrito e filmado por Nerivaldo Ferreira”. Nos créditos finais, ele assina como autor, idealizador, diretor, diretor de arte, roteirista, produtor, diretor de fotografia e
câmera, em um dos maiores acúmulos de função de que se tem notícia desde o falecimento de Charles Chaplin.
Assédio de ‘popstar’

O oitavo filme ainda está sendo escrito, mas ele já está certo de arrumar uma ou outra cena para incluir os filhos, Brian Lee, 5 anos, e Ticiano Neri, de 1 ano e seis meses. Braion é do primeiro casamento, com Maria Aparecida. Agora Nerivaldo já está com Lucineide, que às vezes fica bem intrigada com o repentino assédio das fãs. “Teve uma que veio com tanta empolgação que eu fiquei até desconfiado. Achei que estava mangando de mim”, comenta ele, desacostumado a essas tietes de popstar.
A notoriedade estadual desse esteta da sétima arte de baixo orçamento foi obtida através do programa Bahia Esporte, da TV Bahia, em uma parceria que se tornou lucrativa para ambos os lados. Quando Nerivaldo foi anunciado como atração, o noticiário teve os dois maiores picos de audiência nas tardes de sábado.

A divulgação via satélite transformou o dublê de galã em superastro do sertão. “Hoje, recebo visitantes de cidades do interior, como Alagoinhas, Esplanada, um pessoal que quer me conhecer. Se eu tivesse 10 mil cópias dos filmes, venderia todas”, calcula ele, que comercializa a um preço de R$ 5, podendo baixar até a R$ 4 a depender da pechincha.
A fama repentina chocou os padrões campesinos da bucólica Rio Real. O dono da única locadora da cidade decidiu tirar os filmes dele da prateleira. Justificou que estavam provocando muita confusão, afinal os DVDs são os mais procurados, ganhando de longe para clássicos do gênero bateu-levou, como Jean-Claude Van Damme, Chuck Norris e Jackie Chan. Só que o acordo era de que toda a receita obtida com o aluguel das películas iria para Nerivaldo e isso terminou minimizando a locação de outros filmes, prejuízo certo para o empresário. No final o dono da locadora não teve escolha, à procura foi tanta que forçou ele aceitar.
Nerivaldo começou a praticar kung fu com uns 10 anos de idade, sob a orientação do mestre Alberto França, em Salvador. A arte marcial parece ter oferecido mais do que o ensinamento de socos e pontapés. Foi um ponto de equilíbrio. “Quando alguém me critica, aí que vem a força para eu mostrar o contrário e conseguir meus objetivos”. A situação financeira é coisa para quem não se abala com qualquer golpe. Uma vez Para viajar até Salvador, ele precisou empenhar um aparelho de DVD. Pediu R$50 emprestados ao amigo que financiava suas produções e emprestava a câmera e este quis como garantia o eletrônico.“Pelo meu sonho, vendo DVD, vendo vídeo, só não
vendo a mulher”, brinca.
Dublê de filósofo

O que os fãs de Nerivaldo não sabem é que, além da produção cinematográfica, ele também tem obras inéditas no ramo da literatura. São dois rascunhos de livros, cujo conteúdo classifica como “filosofias, mensagens de otimismo, que capto no momento”. Nas páginas rabiscadas, frases como: “A dor de uma pessoa é nada comparado ao sofrimento de todos”; “Visão sem ação não passa de um sonho, ação sem visão não passa de divertimento”. ”É melhor um cão amigo do que um amigo cão”, “é difícil ser normal”.
Toda essa efervescência artística já seria de se considerar uma epopéia para qualquer interiorano de berço humilde, ainda mais para alguém que nasceu como bicho dentro do mato. Sua educação no cinema, por incrível que pareça, é ainda mais precária. Tinha assistido apenas a um filme de Bruce Lee (A fúria do Dragão), em 1995, antes de começar a gritar, por si, as mágicas palavras “ação” e “corta”. Com o advento do vdeocassete e do DVD, passou a prestar atenção em detalhes como enquadramento e cortes de edição, que são os verdadeiros heróis de qualquer longa-metragem. Conseguiu uma câmera emprestada de um amigo (uma espécie de mecenas de seu trabalho) e iniciou-se como herdeiro de John Woo.
Recentemente, em 2006 voltou ao cinema em Salvador para ver Superman. A imensidão da tela e o som estéreo, em alto volume, deixaram ele tonto, segundo o relato do anfitrião, o repórter Matheus Carvalho, da TV Bahia, amigo intimo de Nerivaldo. O cineasta também deu para produzir reportagens, já que tinha três dos principais recursos para fazer bem um trabalho desse tipo: uma câmera, tempo disponível e texto criativo. É dele a idéia de fazer o relato jornalístico sobre “o homem da chuteira”, um conterrâneo que usa um calçado típico do futebol para ser campeão no atletismo. Nerivaldo, o repórter, diz que seu personagem coloca um cavalo para babar de vergonha em uma competição de corrida inter-espécies: “Humilhado, o cavalo sai cabisbaixo”.
Nessa trilha jornalística, já pensou em seguir um estilo que ele mesmo batizou de “Rio Real sem maquiagem, por trás da cortina de ferro”. Na incursão pelo submundo rural, encontrou uma criança de 4 anos carregando no colo o irmão de 6, subnutrido, e uma família de sete pessoas tentando dividir um ovo de galinha para alimentar todos. Percebeu que ficaria deprimido facilmente com esse choque de realidade. “Penso muito em ajudar os outros, mas às vezes eu mal posso me ajudar.” Nem é preciso dizer que, ao longo dos cem minutos de seus filmes, Nerivaldo não abre mão: seja na frente ou por traz das câmeras ele é sempre o mocinho.









ROTEIRISTA: NERIVALDO FERREIRA
DRT/ BA MT REGISTRO PROFISSIONAL N° 7116
DELEGACIA REGIONAL DO TRABALHO MINISTÉRIO DOTRABALHO.

FILMOGRAFIA DO
CINEASTA DO SERTÃO.

A VINGANÇA DE CHANG 2003. SEM SAIDA 2004.

AS AVENTURAS DE SHEN 2006. O FILHO DO MESTRE 2007.

A CASA MAL ASSOMBRADA 2008. O MATADOR 2008.

NERIVALDO FERREIRA
FAZENDO DE RIO REAL HOLLYWOOD!

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